{Etc e tal...} ~ Heroínas - por Gabrielle Venâncio Ruas ~

Houve  um tempo em que, às moças, cabia a leitura dos romances, e só. Emma Bovary, do célebre livro Madame Bovary, de Gustave Flaubert, figura entre um dos grandes exemplos da mulher que permanecia em casa, dividindo o tempo entre as tarefas domésticas e a leitura, enquanto o marido trabalhava fora para prover o lar. Felizmente, os tempos mudaram, e a mulher extrapolou todos esses limites. Ela passou a almejar novas conquistas, novos universos, e isso inclui também novos panoramas literários.

Foi assim que novos nichos se abriram para o público feminino. É claro que os romances, sejam eles de época, atuais ou eróticos, não perderam seu valor. Porém, a fantasia possui, aqui, um destaque especial. A mulher que ama a leitura se torna livre, entregue a novas sensações, mas a mulher que lê fantasia... Ah, essa se torna uma desbravadora em essência! Afinal, ela viaja por novos mundos e, acima de tudo, cultiva sua imaginação com descobertas, tramas e personagens tão fantásticos que transcendem a narrativa. E o que dizer de sua maneira de enxergar o mundo? Mais do que se conectar a um romance idealizado, a mulher que lê fantasia se debruça à contemplação do inusitado, do surpreendente, do magnífico. 

A mulher que cultiva a leitura fortalece a própria mente e agrega saberes diversos, mas a mulher que lê fantasia ultrapassa qualquer obstáculo. Nesse ponto, exponho aqui meu próprio relato. Quando era jovem, na época da escola, considerava-me uma leitora contumaz. Apesar disso, às vezes me sentia sozinha, às vezes ficava perdida quanto ao futuro, embora soubesse desde a infância que gostaria de ser escritora. Porém, somente quando imergi na literatura fantástica é que me senti motivada a transcender aquilo que eu própria era; a me arriscar, a desvendar, a seguir em frente. Me senti verdadeiramente forte, afinal, havia universos inteiros em revolução na minha mente, e precisava permitir que esses pensamentos se derramassem e se manifestassem e se pincelassem de alguma maneira. Assim me tornei escritora. 

Se pensa que a mulher que lê vai se deixar limitar por qualquer dificuldade do cotidiano, está enganado! Ela sempre mostrará o quão madura a literatura a deixou, e, nesse quesito, a mulher que lê fantasia, acima de qualquer outra, vai sempre buscar um lugar seguro nos universos ficcionais, onde possa se renovar e apaziguar a mente. Ela costuma viajar por dias a fio pelas páginas, visitando reinos distantes, permitindo que sua mente se expanda para além dela própria. Porque ler nos permite esse milagre: nos distrair e, ao mesmo tempo, aprender. E, no caso da mulher que lê fantasia, isso vai além: ela absorve saberes valiosos passíveis de serem utilizados na vida cotidiana, transformando em algo fantástico o que a maioria dos olhos comuns toma como banal. 

Há muito mais que poderia ser dito sobre a mulher que lê fantasia. Ela é mãe, mas também pode se tornar uma guerreira medieval quando necessário. É trabalhadora, mas pode assumir seu lugar no trono e guiar aqueles que clamam por sua ajuda. É humana, mas pode adquirir poderes extraordinários se isso significar o bem-estar daqueles que ama. Ela se reinventa, se rebela contra os velhos hábitos, permite que a bagunça em sua mente se converta em pura imaginação. Ela pode parecer incrível, inalcançável com suas pilhas de livros fantásticos, abrindo as asas como as de um feérico, rugindo como um dragão imenso, ou apenas refletindo sobre o mundo ao redor como uma estrategista, e de fato é assim que ela é. A mulher que lê fantasia é incrível e pode alcançar o impossível com um livro na mão.

Sobre a autora: Gabrielle Venâncio Ruas é mineira, graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, atualmente, atua como escritora e revisora de língua portuguesa. Cresceu em meio aos livros e, principalmente, acompanhando os animês japoneses na televisão, que ainda hoje inspiram suas estórias. O percurso na escrita se iniciou ainda na infância, quando criava jornadas fantásticas e histórias em quadrinhos. Desde então, conceber novos universos por meio da escrita tornou-se verdadeiramente uma paixão.

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Eu já li esse texto uma porção de vezes e me emocionei em todas elas. Gabi é uma parceira e amiga aqui do blog, e deixou toda a correria do seu dia para arrumar um tempinho para espalhar amor para todos nós. Obrigada sua linda!

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Beijinhos lindezas ♥