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15 março 2019

{Etc e tal} ~ Barry, seu babaca! Essas Mulheres Assombrosas - por M R Terci ~

Em  meados de 1996, o editor londrino Barry Cunningham da Editora Bloomsbury, aconselhou uma escritora a utilizar apenas as iniciais de seu nome, de modo que o público masculino não se afastasse de seu livro: "Sabe Joane? Achamos que esse livro vai despertar o interesse de rapazes e garotas. Podemos usar as suas iniciais?"

Basicamente, queriam ocultar o gênero da escritora. Mas Barry foi além. Muito embora a Bloomsbury tenha contratado a publicação do livro, o editor aconselhou a autora a procurar um outro emprego, já que as chances de uma mulher conseguir dinheiro com livros eram mínimas. Mas ela queria muito ser escritora. Deus! Como queria!

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Em 1997, Joane conseguiu com muito esforço uma concessão de 8 mil libras da Scottish Arts Council, um organismo público da Escócia que financia, desenvolve e promove as artes no Reino Unido, para continuar escrevendo a série.

Em junho de 1997, a Bloomsbuty finalmente publicou o primeiro livro com uma impressão inicial de mil cópias. Em novembro daquele ano, seu livro levou o prêmio Nestlé Smarties Book Prize. Em fevereiro de 1998, ganhou o British Book Awards na categoria de Livro Infantil do Ano, e mais tarde, o Children's Book Award. Estamos falando de Joane Kathleen Rowling, mais conhecida como J. K. Rowling, a autora da saga Harry Potter.

Como minha amiga e conselheira Carol sempre menciona: É verdade esse bilete? Sim! É fato verídico e ilustra à saciedade como a literatura fantástica escrita por mulheres possui uma recepção diferente, tanto das editoras, quanto dos leitores.

Lugar de mulher é no fogão.

Só se ela for cozinheira, Barry.

Lugar de escritora, portanto, é atrás da máquina de escrever ou onde ela quiser, meu filho! 

Vou te explicar, cronologicamente, como a banda toca. 

Trago cá uma lista que vai te deixar de queixo caído.

1) Ann Radcliffe, escritora inglesa, conterrânea de Joane, é considerada a pioneira do chamado romance gótico. Em 1794 ela publicou Os Mistérios de Udolpho. Sua técnica de como explicar elementos sobrenaturais em seus livros foi o que elevou o gênero do romance gótico a um status respeitável na década de 1790. Isso rolou 200 anos antes de J. K. Rowling, Barry.

2) Mary Shelley era noiva do poeta Percy Shelley. Há 203 anos, Lord Byron, John Polidori, Percy e Mary, reuniram-se para passar férias em uma mansão próxima ao lago Léman, na Suíça. Mas o clima não ajudou. Abrigados contra o tempo inclemente e incessantes tempestades, de maneira a passar os dias chuvosos, decidiram promover um concurso onde cada qual deveria escrever uma história de horror. O resultado não é desconhecido por ninguém. Em 1818, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno foi publicado por Mary Shelley, cuja fama, hoje, supera a de seus ilustres companheiros da mansão. Barry, Barry... 

3) Emily Brontë era irmã das escritoras Charlotte Brontë (Jane Eyre e O Professor) e Anne Brontë (Agnes Grey). Em 1847, Emily publicou seu romance, O Morro dos Ventos Uivantes, que possui elementos do romance gótico e hoje é considerado um clássico da literatura mundial. Um dos romances com maior número de adaptações para o cinema, desde 1920 até 2011, com atores renomadíssimos como Laurence Olivier, Merle Oberon, Timothy Dalton, Ken Hutchison, Ralph Fiennes, Juliette Binoche, Robert Cavanah, Orla Brady, Tom Hardy, Charlotte Riley, Sarah Lancashire, e Andrew Lincoln. O livro contou com adaptações para ópera e também para a dramaturgia brasileira, com duas telenovelas, em 1967 e 1973, respectivamente O Morro dos Ventos Uivantes e Vendaval. Caramba, Barry! As três irmãs eram inglesas e escritoras de sucesso! 

4) Daphne Du’Maurier, nascida em 1907, foi autora de grandes obras de terror. Entre eles temos o conto Os Pássaros e o romance Rebecca, ambos adaptados por Hitchcock para o cinema. Precisamos discutir isso, Barry? 

5) Selma Lagerlöf publicou em 1912 a novela Körkarlen ou a Carruagem Fantasma, gênero fantasia sombria. Virou filme mudo em 1921, dirigido e estrelado por Victor Sjöström. Considerado como uma das obras centrais da história do cinema. Ah! Por falar nela, Lagerlöf foi a primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Literatura. #chupabarry. 

6) Agatha Christie, inglesa, foi a grande escritora do gênero suspense, desde 1920, com diversos livros traduzidos pelo mundo afora, além de diversas adaptações para o cinema. Segundo o Guiness Book, Christie é a romancista mais bem-sucedida da história da literatura popular mundial em número total de livros vendidos, uma vez que suas obras, juntas, venderam cerca de quatro bilhões de cópias ao longo dos séculos XX e XXI, cujos números totais só ficam atrás do poeta William Shakespeare e da Bíblia. Não podia ir dormir sem essa, né Barry? 

7) Patricia Highsmith foi uma escritora norte-americana famosa pelos seus thrillers criminais psicológicos. Iniciou a carreira na década de 1940, escrevendo roteiros para histórias quadrinhos para Editora Nedor, sobretudo as do super-herói Black Terror. Tornou-se mundialmente famosa por Pacto Sinistro, que teve já várias adaptações para cinema, sendo a mais famosa dirigida por Alfred Hitchcock em 1951. Foi a criadora de O Talentoso Ripley também adaptado para o cinema com Matt Damon (1999) e John Malkovich (2002). Putz, Barry! 

8) Shirley Jackson também foi uma importante autora do gênero. Uma de suas principais obras, A Assombração da Casa da Colina (1959), já foi adaptada para o cinema duas vezes. Outra obra da autora, Sempre vivemos no castelo (1962), foi publicada apenas esse ano no Brasil pela Suma de Letras. Pô, Barry! 

9) Anne Rice de quem eu tenho absolutamente tudo. Guardanapo que ela limpou a boca e jogou no chão da lanchonete? Teria também, se Miss Anne não fosse uma dama! E, não é para menos. Se Bram Stoker foi o responsável por popularizar o mito do vampiro com o romance Drácula, Anne foi a responsável por reviver o gênero magistralmente. Literalmente, sangue novo na fita. Com o lançamento de Entrevista com o Vampiro em 1976, ela deu início à saga chamada As Crônicas Vampirescas. Para você compreender o impacto de sua publicação no mundo, aqui no Brasil, a tradução da obra para o português (Editora Rocco) ficou a cargo de ninguém mais ninguém menos que Clarice Lispector. Virou filme com grande elenco, Tom Cruise, Brad Pitt, Stephen Rea, Kirsten Dunst, Antonio Banderas, Christian Slater e Tandiwe Newton. E, mais! O Vampiro Lestat está para virar série em 2019. Boo, Barry! Boo! 

10) Susan Hill publicou em 1983 uma novela de horror chamada A Mulher de Preto, que segue o tradicional estilo gótico. O livro deu origem ao filme, de mesmo nome, contando com Daniel Radcliffe no papel principal. Lançado em 2012, com direção de James Watkins, foi o primeiro longa que Radcliffe atuou após o longo período como Harry Potter nos cinemas. Engole essa, Barry! 

11) Valerie Martin publicou em 1990 a obra Mary Reilly, inspirada por O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Sr. Hyde de Robert Louis Stevenson. O livro é narrado sob a perspectiva de Mary, empregada de Dr. Jekyll. Também ganhou adaptação para o cinema, com Julia Roberts no papel principal. Sentiu isso, Barry? 

12) Margaret Atwood, recebeu o primeiro Arthur C. Clarke Award Prize em 1987 com O Conto da Aia. O romance também foi nomeado ao Nebula Award de 1986 e ao Prometheus Award de 1987, ambos prêmios de ficção científica e acabou se transformando em uma série de ficção científica dolorosamente real na Netflix. Está acompanhando, Barry? 

Vou parar por aqui porque acho que provei meu ponto. Mas, Barry, vamos! Precisamos nos entender! Todas essas moças talentosas que citei, publicaram seus livros e foram muito bem-sucedidas, anos, décadas e séculos antes da nossa querida Joanne. 

Onde você estava com a cabeça? Barry. Barry. Seu babaca!



Sobre o autor:

M. R. Terci é escritor, roteirista e poeta. Antes de se dedicar exclusivamente a escrita, foi advogado com especialização em Direito Militar e mestrado em Direito Direito Internacional, Ciência Política, Economia e Relações Internacionais. Trabalhou como consultor e também esteve no PILE de Aubagne, na França, onde foi acolhido pela Legião Estrangeira. Mas isso é outra história...


Sua carreira como escritor, até este momento, seguia paralelamente desde 2004. Escreveu centenas de contos e recebeu vários prêmios por suas participações em antologias e concursos de poesia. Mas foi apenas em 2014, que decidiu se dedicar integralmente à literatura. 


Nascido em São Paulo, em 1973, este prolífico escritor busca honrar aos Deuses da Criação Literária, devotando-se ao solitário trabalho de traçar destinos através dos meandros do horror sobrenatural.


Sua escrita tem como característica a pesquisa histórica, primando sempre pela composição poética de cada parágrafo penejado. Com base em fatos históricos, o escritor substitui os castelos medievais pelos casarões coloniais, as aldeias de camponeses pelas cidadezinhas do interior, os condes pelos coronéis e as superstições por elementos de nosso folclore e crendices populares, verdadeira transposição do gótico para a realidade brasileira.


Seus livros não são apenas para os fãs do gênero horror. Seu penejar é para quem aprecia uma narrativa envolvente, centrada na experiência subjetiva dos personagens mediante as possibilidades que o contexto sobrenatural de suas estórias permite.

É o criador da série O Bairro da Cripta, composta por contos de terror que colocam os clássicos do terror universal sob o lume dos lampiões de querosene dos sertões paulistanos do século XIX. Os três volumes iniciais da pentalogia, Elegias (tiragem esgotada), Epitáfios e Exéquias, foram publicados pela Editora LP-Books, respectivamente em outubro de 2014, maio de 2015 e junho de 2016. Seguirão, ainda, os Epicédios e as Endechas do Bairro da Cripta. Os fãs da série poderão contar ainda com o spin off O Bandeirante e a edição especial É Sempre Treva No Bairro da Cripta.

Escreveu a Trilogia Caídos, livro 1 - Abandonai toda Esperança (tiragem esgotada), livro 2 - A Morte Ressuscitada e livro 3 - A Grande Guerra Sombria, cujos romances, sempre prenhes de elementos históricos do período colonial do Brasil, permeiam o universo do Trirregno das Areias Eternas e a luta entre as castas e reinos de bruxos, necromantes e magistas. Inicialmente o livro 1 da série foi lançado pela Editora Multifoco, através do Selo Desfecho.

Desenvolveu a série de horror histórico os Imperiais de Gran Abuelo – As Crônicas de Pólvora e Sangue e As Crônicas dos Negros Céus. A série que mescla história do Brasil, fantasia e horror apresenta os soldados imperiais treinados pelo General Osório no reinado de Dom Pedro II, às voltas com monstros sobrenaturais libertados pelo caudilho Solano López no desfecho da Guerra do Paraguai. Foi contratada para publicação pela Editora Pandorga e logo vai estar disponível nas redes de livrarias de todo país. Mais notícias em breve!

Ao disponibilizar alguns contos de horror em português e inglês pela Amazon, resolveu inovar no formato de publicação de um romance, ao publicar, semanalmente, Os Santos de Colditz, em formato de minissérie de horror em dez episódios que apresentavam o capitão-aviador Garcia e o cabo Franco, soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial e que acabaram em um campo de prisioneiros de guerra conhecido como Colditz, no leste da Alemanha. Dado o sucesso alcançado entre os fãs do gênero, Os Santos de Colditz voltaram para a segunda temporada.


M. R. Terci escreveu, ainda, O Mythos, em doze episódios envolvendo o folclore brasileiro e Monteiro Lobato. O romance, rico em elementos de horror cósmico, rendeu elogiosas críticas em sites aclamados pelos cultores do horror e um spin-off chamado Deuses Tupiniquis, cujas temporadas serão publicadas semestralmente em 3 episódios. 


Concluiu o livro 2 de Os Imperiais de Gran Abuelo e a terceira temporada de Os Santos de Colditz, aguardando, portanto, o momento oportuno para seus lançamentos, o que acontecerá, dentro em breve, com o lançamento dos livros físicos.


Após cruzar a BR-116, a mais longa rodovia brasileira, desenvolveu ASSOMBRADA BR, à princípio, um e-book versátil, em formato magazine, onde publicou a primeira parte da Trilogia dos Facas Longas, uma ópera rock horror inspirada em lugares obscuros, fatos inexplicáveis e assustadores da estrada.


Ahhh gente!! 



Primeiramente quero agradecer imensamente ao autor, que sempre é muito receptivo para conosco. M R Terci é um parceiraço, e mesmo eu sendo tão enrolada, ele nos apoia grandemente e não ponderou quando o convidamos para esse especial.


Essa é uma grande homenagem para você mulher escritora, que enfrenta constantemente os desafios em se aventurar em gêneros considerados masculinos. 


É para você que, por escrever gêneros considerados de "mulherzinha", precisa se desdobrar para encontrar o seu lugar ao sol. 


De maneira geral, é para você mulher escritora, que luta para provar que tem talento, que se reconstrói a cada "não" para tentar de novo, e de novo, e de novo. Que abraça seu sonho.


Também é para você, leitora. Que por querer sempre mais, se aventura em gêneros diversos. Que por ter sororidade, não diminui os demais gêneros.

Somos todas assombrosas.

 

3 comentários:

  1. Que post maravilhoso :D

    https://www.submersaempalavras.com/

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  2. Ahhhh que post mais maravilhoso!!!

    Como não arrasar com esse tema, e com todas essas apresentações. Somos mulheres e lugar de mulher é realmente onde ela quer!! Coisa mais linda

    Beijos
    Naty

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  3. Sério que tudo isso vai acabar??
    ;/
    Barry, Barry, seu bobão!rs
    Somos todas assombrosas, no fogão, nas velhas máquinas de escrever, nos papéis, na história da humanidade. Somos invencíveis, ainda mais quando deixamos para trás todo os tabus e traumas.
    Esconder atrás de letras??Nunca!
    Talvez até sobrevivamos em muitos codinomes, nomes, siglas..mas sempre seremos MULHERES!!! E sim, com letra maiúscula!!!!
    Amei, amei!!!
    Beijo

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