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26 fevereiro 2018

{Mundo da Lua} ~ A lenda da Mula Sem Cabeça ~

Amo  o nosso folclore! Tento variar o conteúdo da coluna, mesclando cultura pop, criaturas fantásticas, contextos históricos e tradições; para que vocês sempre se surpreendam.

Mas quando eu criei essa coluna, ainda lá no Lua Literária, o principal intuito era trazer postagens sobre o folclore brasileiro. Não apenas falar da lenda em si, mas trazer as diversidades, as discussões...

Hoje trouxe uma das lendas mais conhecidas do nosso folclore: a da Mula Sem Cabeça. Tenho certeza que você deve conhecer, porém vou tentar fazer uma abordagem mais inovadora. Inclusive, acho que essa lenda tem um lado machista.

Vem? 


A origem da lenda é incerta. Alguns relatos apontam que ela teve sua origem na Península Ibérica e foi trazida para as Américas pelos colonizadores portugueses e espanhóis.

Mesmo com a origem incerta, a lenda se tornou famosa principalmente na cultura da população que vivia sob o domínio da Igreja Católica.

A lenda conta que uma mulher cometeu o pecado de se relacionar com um padre. Eu nem preciso citar o quanto essa relação é pecaminosa. Como punição, esta mulher foi transformada em um verdadeiro monstro, uma mula sem cabeça, que apareceria nas noites de quinta, soltando labaredas de fogo no lugar que deveria ser a cabeça da mula.

Dizem que todas as mulheres que por acaso tivessem sequer algum pensamento pecaminoso com a figura religiosa de um padre, seria condenada a vagar por ai sob a forma de mula sem cabeça. 


O monstro é forte, assombra quem tiver em seu caminho. É uma verdadeira maldição. O som de suas patas é ouvido ao longe, como se fossem revestidas por aço. Mesmo não possuindo cabeça, seus relinchos são ouvidos por onde passa, e por vezes, sons humanos de choro e sofrimento.

Existem várias formas de se quebrar o encanto. Uma delas é tirando o freio de ferro que a mula carrega no pescoço. Para isso, o corajoso deverá domar a criatura, o que não é tarefa fácil. Quando o freio for retirado, ela aparecerá na sua forma humana, despida, geralmente chorando arrependida do seu pecado.

Outra forma de quebrar o encanto, é espetando o monstro até arrancar sangue. 

De acordo com a lenda, se o padre amaldiçoar e renegar a amante antes da missa, sete vezes seguidas, o encanto também será quebrado.


Dentro do contexto de interpretação do conto, podemos observar que essa lenda traz uma lição de alerta. O padre jamais poderá ser visto como um homem comum, como objeto de desejo; por isso a mulher que de alguma forma o enxergar diferente, ficará sob o encargo de uma maldição horrível. Afinal, quem gostaria de vagar por ai sob a forma de uma mula sem cabeça?

E é dentro do contexto interpretativo, que algumas variações surgiram a partir desta maldição. Algumas famílias tradicionais, que buscavam controlar o relacionamento de suas filhas, contavam que a maldição também se sobrepunha em mulheres que dormiam com seus namorados antes do casamento. O ato de perder a virgindade antes de se casar, poderia acarretar numa maldição.

Essa é a parte que não suporto dessa lenda. Desde quando a ouvia, ainda pequena, ficava revoltada com o fato de a mulher ser amaldiçoada e o homem não. E posso falar ainda mais? Por que somente a "amante do padre" sofria maldição? Ele também errou, não deveria ser amaldiçoado também? 

Pois bem, vejo essa lenda sob um olhar bem feminista, e quando for contá-las aos meus filhos e sobrinhos, quero esclarecer que quando surgiu, a mulher tinha uma posição muito diferente da atual nos dias de hoje. 

Concordando ou não com a minha opinião, o fato é que apesar de machista, é uma lenda viva. Tenho certeza que dentre os mais velhos, há um que afirmará de pés juntos que já viu uma mula sem cabeça vagar pelo campo numa noite de quinta-feira.


Sinceramente, curto muito essas duas versões para a lenda:
A Mula é uma bruxa!
Lá no século XII, um Padre acabou colocando seu dom em jogo. Ele se encantou completamente por uma linda camponesa. O amor entre os dois era tão forte, que ele decidiu largar a Igreja para viver com sua amada.

Mas essa camponesa apaixonante, era na verdade uma bruxa. Envolvida com rituais satânicos, todas as noites a mulher dedicava de seu corpo para o próprio demônio. Ela se transformava em mula para atormentar a população do vilarejo, mas sua cabeça humana, deveria ficar na casa em que dividia com o padre. Para se transformar em humana novamente, sua cabeça deveria estar a salvo em sua casa.

Certa noite, percebendo o sumiço da esposa, o homem decidiu seguí-la. Foi assim que descobriu a sua real condição. Ele voltou para casa antes dela, e deixou tudo trancado. Dessa forma, a bruxa não conseguiu voltar à sua condição humana, se tornando mula sem cabeça pelo resto de sua vida. 

Ai daquele que tentar domar a criatura. Ela não se transformará em uma mulher arrependida, muito pelo contrário. É uma bruxa, uma entidade demoníaca, e por isso matará aquele que cruzar seu caminho.
A Mula é uma rainha!
Essa é a versão considerada a mais antiga da lenda. Num reino muito distante, uma rainha costumava visitar secretamente, todas as noites, o cemitério. O rei começou a achar estranho as saídas noturnas da esposa; e certo dia resolveu segui-la. Imaginem qual foi a sua surpresa ao perceber que ela estava visitando um cemitério!

Ao se aproximar da esposa, tocado, pensando que na verdade ela poderia estar tomada pelo luto; foi tomado pelo medo ao descobrir que ela estava se alimentando de cadáveres de crianças ali enterradas. A rainha, ao ver o marido, se transformou em Mula Sem Cabeça e desde então, vaga sem rumo pela noite.


Diz pra mim, essas versões não são muito mais legais? Eu acho. A lição aqui é: jamais tente descobrir os segredos de sua esposa. 

Fontes:

Espero que tenham curtido o post e ampliado um pouquinho o conhecimento dessa lenda folclórica tão famosa.

Ahhh e minha opinião não tem intenção de desvalorizar ou ofender o conto. Mesmo considerando a lenda machista, adoro e vivo procurando novas curiosidades para ler a respeito.

Beijos!

10 comentários:

  1. Como não conhecer este conto, as versões que você citou são muito boas, gostei da que a mula é uma bruxa!! Realmente o conto original tem uma pinta de machismo, tudo é culpa da mulher, mas e os homens? Porque santo eles não são..kkk

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  2. Nesta época para quem vive a Quaresma(igreja católica, como eu), sempre é comum a gente ainda ouvir estórias como esta. Desde pequenos, somos instruídos a sentir medo, a respeitar essa época, com a sombra de lobisomens, mulas e afins..rs
    E olha, no interior, estas lendas ainda conseguem se manter vivas depois de muitos anos. Vira e mexe, tem um lobisomem arranhando portas, uma mula sendo vista em alguma esquina, uma freira de branco aqui nos morros perto de casa.
    Eu só conhecia a versão do Padre. E fiquei cá imaginando o monte de mula que se teria se todas mulheres que já tiveram pensamentos pecaminosos com o Padre Fábio arcassem com essa maldição.rs
    Teria pouco pasto pra muita mula :D rs
    Adorei o post!!rs
    Beijo

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  3. Oi Bianca!
    Na verdade em todas as versões a mulher é colocada como um monstro né? Para mim a machismo em tudo, até mesmo na original do padre, porque tá certo que a moça foi errada, mais e o padre?? Também deveria ser punido se a intenção era essa...
    Conhecia um pouquinho já sobre a Mula sem cabeça, e como você, também acho as outras duas versões legais.
    Bj

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  4. Adorei demais conferir a postagem.Confesso que só conhecia esta sobre o padre ( que coisa mais absurda, né), mas achei interessante saber sobre as outras historias. Bacana falar sobre isso, lendas estão praticamente sendo esquecidas...

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  5. Olá!
    Adorei muito a postagem, realmente é um folclore bem conhecido é realmente percebo que não tem uma forma certa de onde foi criada. Mas ainda sim fiquei bem curiosa pelo fato da história da mula sem cabeça.

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  6. Oiii!!
    Ouvia mto essa lenda, cada vez minha avó contava uma,eu e meus primos amávamos...
    Adorei o POST e mais ainda por me trazer boas lembranças lembranças...

    Bjs

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  7. Eu conhecia a lenda através de meus livros de fábulas quando era criança mas não era com nenhuma dessas versões (talvez para não traumatizar as criancinhas inocentes kkk), portanto essas 3 versões são novas para mim. As duas últimas versões são bem mais legais mesmo, já a primeira fiquei meio revoltada com a parte em que só a mulher é punida, o padre deveria virar um monstro também já que fez errado igual a moça da lenda.

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  8. Oi Bia, tudo bem?
    Adorei a versão A Mula é uma rainha, achei mais legal e aterrorizante.
    Infelizmente até nos dias de hoje isso é comum né? Sempre a mulher que paga, sempre a mulher que é vista como 'puta' e o homem fica lá, lindo e belo como se não tivesse culpa no cartório.
    Temos a mesma opinião sobre a lenda, porque o padre não pagou também?
    Adorei saber mais sobre a lenda, tinha muitas coisas que eu não sabia, só mais por cima.
    Beijos!

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  9. Caramba, não conhecia essas outras duas versões!
    Quanto à lenda como ela é amplamente difundida (aliás, hoje é bem menos do que quando eu era criança), eu tive uma babá vinda do interior do Nordeste que jurava de pés juntos que tinha visto a mula sem cabeça. Ela tinha tanto medo dessa lenda que a coitadinha até chorava contando hahah, e eu, criança de apartamento que era, achava muito engraçado imaginar esse absurdo de mula sem cabeça.
    E obviamente preciso concordar com você: por que o padre não pagou pelo pecado também? Ele é o principal interessado, ao meu ver, já que quem fez os votos foi ele, não a moça.
    Beijos!

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  10. Que post demais!
    Adorei! De verdade, quantas informações bacanas!
    Eu só conhecia por cima a lenda, só o pouco que conheci de folclore na escola. Confesso que não gostava muito, então nem procurei saber mais.
    mas gostei muito das informações que você trouxe aqui pra gente.
    A da mula rainha é muito interessante! kkkkk
    E a primeira versão é horrível mesmo, todo esse machismo, e ao mesmo tempo, importante porque realmente não devemos "tentar" os padres kkkkk meu Deus, o tanto que acho o Pe. Fabio de Melo lindão, já era pra eu ser mula kkkk
    beijinhos

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