Menu em imagem

Image Map

01 novembro 2017

{Senta que lá vem história!} ~ O CORVO - Edgar Allan Poe ~

Hey,  pipows!
Como estão?

Vim para me despedir do mês do horror em grande estilo! Mas antes, queria bater um papinho.

Apesar de ter curtido muito cada postagem daqui e do A culpa é dos leitores, nosso parceiro de trevosidades, este especial não foi bem como eu imaginei e planejei, rs. O tempo, infelizmente, não me permitiu fazer tudo o que eu gostaria, mas ainda assim, amei o resultado e, principalmente, a interação de vocês.

Eu queria ter trazido mais resenhas, queria ter lido uma série de livros do gênero, mas este mês não foi nada produtivo.... nem consegui terminar "O iluminado" ainda, e esse fato me deixou bastante frustrada. Eu queria ter vindo falar sobre Poe, sobre Lovecraft  e tantos outros gênios do terror/horror/suspense, mas não deu também. Mas as trevas darão as caras por aqui novamente, podem ter certeza! Afinal, nem só de amorzinho vive o PPP, não é mesmo? 😉❤

Para fechar esse mês mara com chave de ouro, resolvi trazer um conto que eu adoro. O Corvo, de Edgar Allan Poe, mostra toda a tristeza de um coração que sofre pela perda de sua amada. Ele não vê a hora de se encontrar com Lenora novamente, mas um certo corvo que pousa no umbral de sua janela o sentencia ao sofrimento respondendo a todas as suas perguntas dizendo apenas "Nunca mais.". Aliás, vale ressaltar que após ser capturado pelas palavras de Poe, o corvo passou a ser símbolo de más notícias, da prenunciação fatal. A ave de luto foi imortalizada como mensageira da inevitabilidade da morte.

O autor nunca teve problemas em falar do seu íntimo horror ao mundo. Nunca deixou de mostrar um pouquinho da sua "loucura" ao mundo, e essa transparência assomada à obscuridade e também ao talento em fazer um terror psicológico da melhor qualidade. Dor, amor e loucura são, afinal, a marca registrada de Poe.

Aos que o conhecem, delicie-se mais uma vez com essa obra linda, triste e profunda. Aos que ainda não tiveram o prazer de ler algo do autor, peço que leia com carinho e que deixe suas rimas apaixonantes invadirem seu coração.

O Corvo
Edgar Allan Poe
~ Tradução de Fernando Pessoa ~

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”

Ah, que bem disso me lembro!
Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…”
E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais –

Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
“É o vento, e nada mais.”

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome “Nunca mais”.

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortais
Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este “Nunca mais”.

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo one ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te.
Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse.
“Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!


13 comentários:

  1. Ah...fala(escreve) assim não! Conheci o blog há tão pouco tempo e já me apaixonei pelo espaço. Não tem como achar que faltou algo. Todos nós sempre estamos correndo e final de ano ainda piora muito. Então, o que importa é fazer bem feito. Que fosse um post, uma resenha..se bem feitos, já valeriam todo o mês!E aqui, todos as postagens são únicas!
    Ao menos eu, estou adorando!!!
    E que Novembro traga...rsrs(odeio isso) mais leituras, posts e conteúdo valioso!
    Beijo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assim meu coração fica ainda mais quentinho, viu!
      Obrigada!
      Esse feedback é super importante pra gente - principalmente pra mim, que tenho a manina de me cobrar além da conta, rsrsr!

      E que novembro traga (eu também odeio isso! Hahahha) uma série de coisas lindas para todos nós, com livros maravilhosos e muito conteúdo de primeira! AMém!
      sHAIUshuiahs

      Beijocas

      Excluir
  2. Oi Fabi, tudo bem?
    Olha eu não sei o que esperava do Poe, mas não curti muito não. Até gostei da estória, mas a escrita meio que em formato de poesia não me pegou. Acho que ainda não sou tão evoluida para ler poesias rsrsrs.
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pra quem não curte poesias realmente fica meio difícil de gostar, Lara! Mas tente ler outros contos dele, com uma pegada diferente - mais voltada para a narrativa linear mesmo - que pode ser que vc goste. Não desista dele ainda! shiuAHs

      Beijocas

      Excluir
  3. O Poe é o autor sobre o qual eu ouvi bastante, principalmente elogios, porém nunca de fato li algo dele. Admito que pra mim que não sou muito acostumado com poesia foi meio... diferente. Mas mesmo assim deu para entender os elogios; a escrita dele é muito interessante, tipo, em poucas palavras já consegui sentir uma atmosfera de emoção e intensidade. Não sei se me expressei bem mas amei, de verdade, quero muito ler mais dele e ver se suas obras são todas neste estilo ou coisas diferentes. Curti demais as postagens desse mês, as recomendações de livros, filmes, curiosidades, tudo no clima Halloween foi muito divertido de acompanhar e a gente continua acompanhando as novidades. Um abraço!

    ResponderExcluir
  4. Oi, Fabi!!
    Gostei muito do post. Mas não sou muito fã de poesias e esse conto dele e justamente nesse formato. Não li ainda do Poe mas pelo que já vi de resenhas e indicações para esse escrito sem que vou apreciar é muito as suas obras, mas infelizmente não curti muito não esse conto O corvo.
    Bjoss

    ResponderExcluir
  5. Oi Fabi.
    Eu adorei o conto, faz bastante tempo que li.
    Eu nunca fui muito chegada a poesia e lembro que quando conhece alguns dos contos do Poe não entendia nada que estava escrito ali, porém em um projeto do Ensino Médio tive que fazer uma releitura do conto e lembro que li tanto que chegou um ponto que já não existia mais aquela dificuldade na leitura e isso infelizmente só aconteceu com suas obras, porque quando as escritas são muito poéticas ainda tenho esse impedimento de entendimento, mas pelo que percebe, é só falta de vontade e dedicação de minha parte, enfim, como pode ver acabei entrando em um desvaneio nada haver rsrs, portanto quero dizer que adorei o post e você me fez muito feliz, ao disponibilizar o conto no blog, facilitando a leitura.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  6. Primeira vez que leio algo de Poe, e que lindo foi aqui no PPP. Poe é aquele tipo de autor que vc conhece só pelo ouvir falar mas que não teve o prazer de "conhecer" de verdade. O modo como ele vê beleza na morte e retrata de maneira tão sutil fascina muita gente. Espero um dia ter o prazer de conhecer mais dos contos dele.
    #Ficaadica vc podia trazer mais alguns né?

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Fabi!
    Não pude acompanhar o mês, mas tenho certeza que fez o seu melhor e isso é o que mais importa.
    O Edgar é cavernoso, né? E esse é um dos contos mais conhecidos dele, justamente por trazer essa sensação de medo e terror.
    Muito bom.
    Desejo uma ótima semana de luz e paz!!
    “É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência.” (François La Rochefoucauld)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!

    ResponderExcluir
  9. Oii Fabi!!!!
    Passei um tempinho longe do blog (que eu amo) pois tive mtos imprevistos sérios com minha saúde, então precisei me cuidar rigorosamente, mas tenho ctz que vc fez como sempre o seu melhor!

    Eu amo contos e este me ganhou de cara, mistura de terror, medo, qro mais .... ameei, simples assim...
    Bjs!!!!!!

    ResponderExcluir
  10. Li a tradução do poema feita por Fernando Pessoa e também por Machado de Assis. Ambas são ótimas, mas quando li o original em Inglês, me surpreendi ainda mais. Parece que, nesse caso, as palavras estrangeiras carregam um peso e um sentido ainda maiores. Uma pena ser tão curto.

    ResponderExcluir
  11. Oi Fabi ;)
    Não tive a oportunidade de ler os livros do Poe ainda, mas estou namorando aquela edição da Caveirinha, quero demais haha
    O iluminado é um que está na minha meta de leitura há um tempo, e quero muito ler ele próximo ano... espero que você tenha gostado da leitura ;)
    Adoro autores que não tem medo de mostrar sua loucura, como você disse, e sinto que vou adorar O Corvo também, já quero ler pra ontem!
    Bjos

    ResponderExcluir

Obrigada por sua visita e pelo carinho! <3
Deixe sua opinião sobre o post e também um pouquinho de amor!

© PAUSA PARA PITACOS - 2016 | Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento por: RENATA MASSA | Tecnologia do Blogger.
imagem-logo