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26 março 2019

{Papo Femininja} ~ Coisas que as mulheres inférteis querem que você saiba ~

Eu  estava com saudades do papo femininja. Bem, vou começar pedindo desculpas. 

Queria ter engatado uma série aqui na coluna falando sobre a endometriose e minha experiência. Mas não consegui. Reviver tudo me provocou uma dor imensa, e, não é fraqueza... simplesmente não consegui falar sobre o assunto.

Prefiro contar uma coisa e outra em posts que não sejam específicos sobre a doença. Quero que entendam que não tenho problema em falar sobre a endometriose, mas sim sobre minhas experiências passadas no sentido de ser específicas, detalhadas. Assim sendo, se quiserem compartilhar experiências e até mesmo dúvidas, não há problema algum. Eu só não quero relembrar pessoas e situações. Entendem? Espero que sim.

Pois vamos à pauta de hoje. Devido à endometriose, passei por uma cirurgia onde minhas trompas foram removidas. Não consigo engravidar pelo modo convencional, digamos assim. Poderia fazer uma inseminação, porém, as chances de ter um resultado favorável e da gravidez ser saudável são mínimas.

Sou infértil. E quero que vocês saibam umas coisinhas...

Não somos amaldiçoadas por nenhuma entidade divina
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Quando falamos em infertilidade, a maioria das pessoas pensam logo em pecado. Já ouvi coisas como "ahh pede perdão pelas coisas ruins que você fez que logo logo isso se resolve". Sério mesmo pessoas? Eu não sou boazinha, mas nunca fiz algo realmente pecaminoso ao ponto de ser tão amaldiçoada assim. Não consigo entender quem fala de maldição e/ou pecado quando o assunto é infertilidade, já que existem muitas mulheres que abandonam, agridem, matam (e não estou me referindo ao aborto; me refiro aos tantos casos de assassinatos de bebês).

Nós, inférteis, não somos uma espécie de pecadoras que perambulam por ai buscando rendição. É algo que simplesmente ocorreu, e no meu caso o problema veio desde à infância.

Parem de acreditar e de nos fazermos acreditar que somos indígnas de sermos mães. A infertilidade não é, na maioria dos casos, consequência dos nossos atos.

Apenas parem de querer procurar cura para nossa infertilidade

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Quando eu digo "não posso ter filhos", geralmente após o olhar torto (eu sei que a maioria das pessoas pensam em pecado nesse momento); vem aquela coisa comum do ser humano em querer fazer nascer uma esperança. Acho lindo. Mas acontece que não tem jeito. Poxa, eu não tenho trompas, tenho endometriose crescendo aqui em todos os meus órgãos reprodutores que restaram; então não vai acontecer. Dessa forma, é bem chato que as pessoas que já sabem de todo seu problema; a cada vez que citar esse tema, ficarem buscando formas de você se curar de algo que não vai rolar.

"Reza que pra Deus nada é impossível". Ok, concordo. Mas não tem como Deus simplesmente fazer nascer uma nova trompa. Nem um novo útero. Nem um novo ovário. Não quero parecer amarga ou desesperançosa, vocês bem sabem que acredito em Deus; mas algumas coisas independem de fé; exigem lógica.

E a coisa é tão louca, que quando as pessoas simplesmente entendem que a religião não vai ajudar, vem a apelação para os "remédios caseiros". Eu poderia contar várias histórias de medicamentos caseiros que muita gente me sugeriu (algumas pessoas até fizeram). Sou farmacêutica, eu sei que nenhuma erva vai fazer nascer uma trompa aqui dentro; então o óbvio começa por ai. Claro que compreendo as boas intenções, mas então, mesmo fugindo educadamente das mais variadas garrafadas que me oferecem; ouço a famosa e mais cruel frase para uma infértil: "mas também, você não se ajuda. Se tomasse certo, estaria curada. É que você não quer."

Ooooiiiii? Como assim alguém que convive com você pensa um absurdo desses? É inacreditável.

Então amores, só parem de procurar cura. Já tentamos tudo. Acreditem. Quando chegamos a conclusão que somos inférteis ao ponto de compartilhar isso com o mundo, já tentamos TUDO. TUDO mesmo. Só respeitem, e caso não conheçam o problema da pessoa, conversem para entender; não vão arrumando soluções achando que a mulher simplesmente aceitou sem procurar recursos.

Nós, inférteis, não somos amargas, nem "secas"

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Cresci ouvindo que mulheres que não são mães são secas. Quantas vezes não ouvi "ahh você conhece fulana? Coitada, é seca. Logo logo o marido vai abandonar. Morrer sozinha, que tristeza."

Não existe isso. Algumas doenças que provocam infertilidade realmente influenciam na vida sexual, mas existem soluções. E muitas doenças nem influenciam nesse departamento. A mulher pode simplesmente ser infértil e ter uma vida sexual mais ativa que a de uma fértil pra caramba.

Para quem tinha o sonho da maternidade, se deparar com a infertilidade provoca tristezas. Existe sim revolta, e eu nem estou entrando na parte de quem já sofreu abortos. É triste. Mas não significa que a nossa vida acabou. Tudo pode ser superado.

Parem de achar que somos amargas, fechadas para o amor. Isso não existe. O que existe é o processo de aceitação, que varia de uma mulher para outra. 

Não sentimos inveja da sua gravidez

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Quando finalmente cheguei à conclusão que não poderia ter filhos, senti uma pontada bem forte no peito ao saber que jamais teria a sensação de carregar em mim uma vida. De sentir um pedacinho meu se mexer na minha barriga. Ahh eu não vou ter a sensação de ver minha barriga crescer. Nunca estarei grávida. Ao constatar isso, em nenhum momento amaldiçoei ou invejei outras mulheres. Eu não quero ser como nenhuma outra. Quero ser eu mesma. Não desejo passar pelo que você passa. Eu só queria ter a minha vez.

É difícil de compreender quando a pessoa não tem em si mesma aquele sentimento de empatia. Particularmente, fico feliz demais quando vejo uma grávida, pois não desejo para nenhuma mulher que tem o sonho da maternidade, passar pelo que passei. Fico mais feliz ainda quando essa gravidez ocorre facilmente. E assim é com a maioria (talvez todas) as inférteis. Não invejamos seu momento de dádiva. Sentimos alegria, queremos estar perto (caso seja próxima), pelo fato de estarmos felizes.

Definitivamente não sentimos raiva de crianças

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Pensamento mais bobo esse!! Tem pessoas que acreditam que nós, inférteis, nutrimos uma raiva gratuita de crianças. Quanta ignorância. Pois se, geralmente, sonhamos com a maternidade, como iremos ter raiva de crianças?

É muito absurdo junto! Eu particularmente adoro crianças, estou super ansiosa pela chegada dos meus sobrinhos, e jamais o fato da minha infertilidade diminuiu o que sinto pelos pequenos.

A infertilidade também deixa marcas no corpo 

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Geralmente o dia das mães é comemorado nas redes sociais com fotos e desabafos do quanto a maternidade altera o corpo da mulher. Vejo depoimentos de mulheres que de certa forma, colocam a gravidez como algo heroico, algo que somente sendo uma mulher forte para conseguir.

Pois bem meninas. A infertilidade também deixa marcas. Engordamos tentando, em vão, conseguir engravidar. É preciso ter muita coragem para se submeter a tratamentos invasivos, dolorosos, que muitas vezes não dão em nada.

Não sou mãe, mas tentando ser, tenho o meu corpo cheio de marcas: estrias, cicatrizes, veias estouradas. Já tive trombose. Sou flácida.

Não é porque não somos mães que não carregamos marcas, ou não somos heroínas. Não é uma questão de ato heroico. É uma questão de escolha.

Acho uma falta de respeito comparar cicatrizes. Como se a dor e as consequências pudessem ser medidas. Cada mulher sabe a dádiva e as consequências de serem mães. E cada mulher sabe bem das marcas de não serem, não por opção, mas por alguma influência da vida.

O luto existe

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Sou muito agraciada pelo fato de não ter vivenciado um aborto. Mas consigo compreender a dor de uma mulher que perdeu o seu filho ainda na gravidez. Essa mulher é mãe. Sim, mesmo que não tenha conseguido chegar na hora do parto, ela é mãe.

Ela é mãe porque o amor bateu no momento que descobriu que carregava uma vida em seu ventre.

Ela é mãe porque começou a fazer planos e a mudar drasticamente sua vida por causa da gravidez.

Ela é mãe porque colocou o seu filho, que muitas vezes nem sabia se seria menino ou menina em primeiro lugar.

Acontece que esse bebê morreu. E eu não consigo entender um povo que é contra o aborto porque é vida, mas não respeita a dor de uma mãe, aliás nem a considera mãe; que passou por um aborto. As pessoas simplesmente não respeitam, não se colocam no lugar. Tudo bem ditar regras e gritar nas redes sociais "assassina" para a mulher que não quis dar continuidade à gravidez. Tudo bem ser contra o aborto. Mas ninguém se manifesta sobre a dor de uma mulher que perdeu seu filho antes dele nascer. Todo mundo julga a mulher que chora e entrou em depressão por ter perdido seu filho de uma semana (ahhh era muito pequeno, nem deu tempo de amar ainda).

Engraçado essa falta de coerência.

E as mulheres que tentam todo mês gerar um filho e não conseguem, também passam pelo luto. A tristeza de ver suas esperanças morrendo, aquele sentimento de não conseguir.

Geralmente ouvimos um "melhor assim, Deus não queria". E isso dói demais, principalmente vindo de pessoas que são próximas a você.

Queremos que saiba que o luto por ter perdido ou por não ter conseguido permeia em nós. Queremos que sinta muito sim por nós, as vezes tudo que precisamos é ouvir um "sinto muito". Só isso, nada mais.

Simplesmente: vá cuidar do seu útero
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Eu não entendo porque as pessoas querem tanto cuidar no útero do próximo. Ahh está na hora de cada um cuidar do seu. Não tem um? Então já sabe né migo, não se intrometa nessa departamento.

Não queremos soluções mágicas e divinas. Apenas queremos ser compreendidas e respeitadas.
Queremos conforto. Nem mesmo a nossa família compreende nossa dor, e isso pesa pra caramba.
Ser infértil com o sonho da maternidade é renascer todos os dias. Saibam amar e ser o apoio que essa mulher precisa. Sejam amor. Não fiquem buscando caminhos, só deem amor e conforto. 

Acredito que fui bem objetiva no meu post, bem crua né? Não estranhem. Levem isso para a vida. Tenho certeza que todas as inférteis que lerem vão se identificar. Mas esse post é destinado para quem conhece uma. Vamos respeitar a dor do outro. Eu sei que muitas vezes você não age por maldade, mas agora, sabendo disso tudo, quem sabe você não consiga compreender de perto todas as lutas de uma infértil?

Beijos amores, até a próxima!!!


6 comentários:

  1. Olá minha linda!!

    Que post sensacional. Não vou entrar em detalhes por aqui por tudo o que você enquanto pessoa representa pra mim, você sabe que te amo! Mas fiquei muito emocionada com tudo o que você citou aí, e a cada dia eu te admiro mais e mais!!
    Um post necessário e verdadeiro que todas as pessoas deveriam ler!
    Sinta-se abraçada! Estarei sempre aqui por você!!

    Beijos
    Naty

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    1. Eu quero sentir esse abraço pessoalmente, é pedir muito? Obrigada por ser linda, por ser amiga, por ser parceira, mas acima de tudo por ser a irmã que preciso ter.
      Amo você. Pra sempre ♥

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  2. Já falei que você é incrível?? Acho que não!! Mas você é incrível demais!!!!
    Debater um assunto considerado até tabu por muitas mulheres e mesmo assim, manter um ar de graça sim. De bom humor, de aceitação e claro, de dicas a tantas outras mulheres que passaram por esta descoberta ou que ainda a enfrentarão!
    Não há um castigo divino, não há pecado nenhum que cause isso, nem uma praga do Egito ou algo semelhante. Há casos e casos, apenas isso.
    E não é também falta de talento para a maternidade não, por muitas(inúmeras) vezes, é até bem o contrário.
    Não há muito o que dizer, pois somente quem já passou por isso ou passa, sabe o sentimento. Seja a dor da descoberta, a dor na aceitação e o decidir viver, depois de um "problema" assim.
    O que não deve haver nunca é piedade, pena ou sentimentos de diminuição. O que vale, o que liga tudo é o amor e respeito ao próximo.
    E ser mãe, é muito além do carregar o serzinho ali dentro. Ser mãe é ser mãe!!! E tenho certeza que você é e será no tempo adequado!
    Um beijo do tamanho do mundo e sempre traga assuntos assim, que nos façam sentir mais perto de vocês, seja pelo respeito e carinho que é impossível não sentir!

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    1. Eu já falei que também te acho incrível? Você sempre soma aos posts, é o tipo de leitora que deveria escrever aqui junto com a gente.
      Obrigada! Eu me esqueci de colocar sobre a piedade que ocorre quando contamos que somos inférteis, mas você já completou. Sua empatia é linda.
      Beijo do tamanho do mundo pra você também.

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  3. Oi Bia
    Que post importante. Não sou próxima de nenhuma mulher infértil, mas deve ser bem triste, principalmente pra quem tem o sonho da maternidade. Em momentos assim, eu fico pensando muito... Eu nunca tive sonho de ser mãe, um dia acordei com essa vontade, conversei com meu marido e parei de tomar meu remédio. Um mês depois, estava grávida. Tudo muito calmo, muito simples e certinho, nada de complicações e todas as maravilhas que qualquer mulher poderia desejar.
    Muitas vezes, ter passado por tudo isso de forma tão rápida e calma me faz sentir culpa. Um casal primo do meu marido tenta engravidar tem tempo e não conseguem, muitas mulheres tem que fazer tratamentos caros e doloridos para conseguirem engravidar... Tudo isso mexe comigo.
    Enfim, espero, do fundo do coração, que consiga o que quer, seja engravidando, adotando ou o que for. Um beijo cheio de amor.

    Vidas em Preto e Branco

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    1. Jamais se sinta culpada por ter sido tão fácil. Nós, mulheres, somos muito diferentes em anatomia, sentimentos e hormônios; e é justamente isso que deveria nos unir.
      Sua facilidade em engravidar nos deixa felizes. E saber que você sente por outras que não tiveram as mesmas experiências que você, dá força sabe?
      Obrigada sua linda, e um beijo bem grande pra você e sua família.

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