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26 dezembro 2018

{Papo Femininja} ~ Tenho Endometriose e preciso conviver com isso - Parte I: Diagnóstico ~

Menstruação.  Algo que a mulher precisa conviver. Algumas deliram com sua chegada, pois é o sinal que não houve gravidez (e não me olhem torto, porque sabemos que isso acontece sim). Para outras, sua ausência é motivo de comemoração: um sinal de uma nova vida gerada.

Agora, para uma porcentagem de mulheres, a sua ausência ou presença é preocupante. No primeiro caso, e não estamos levando em consideração tratamentos medicamentosos; a falta dela pode indiciar aumento de órgãos, confusões hormonais. E no segundo caso, sua chegada pode marcar mais focos, mais dores, hemorragias.

Essa pequena porcentagem de mulheres precisam conviver com a dor. Essa pequena porcentagem de mulheres muitas vezes não recebem o tratamento adequado. 

Essas mulheres, num grupo tão pequeno em comparação com a população como um todo, sofrem danos psicológicos por causa de uma doença silenciosa, que se manifesta no corpo inteiro.

Eu faço parte dessa pequena porcentagem. Meu nome é Bianca, tenho 31 anos, e aos 18 fui diagnosticada com endometriose profunda. Minhas trompas precisaram ser removidas. O sonho da gravidez é praticamente impossível. Estou a dois passos de ouvir finalmente que sou infértil, e querem saber? Eu sei que não poderei ter filhos, que mesmo com uma inseminação na clínica mais famosa com o médico mais incrível, seria inviável.

Já fiz tratamentos loucos e inadequados. Já ouvi absurdos sobre a minha condição. São poucas  as pessoas que convivem comigo que entendem a doença e tudo que ela provoca.

Numa série especial de dez posts, irei retratar alguns aspectos sob minha perspectiva e experiência perante a doença. Talvez isso ajude a você que também sofre com ela a enxergar caminhos mais fáceis. E isso poderá servir de apoio ainda para você que convive com uma mulher que tenha o diagnóstico.

O papo femininja terá duas edições nesses meses em que trataremos sobre o tema.




Minha menstruação foi muito precoce. Aos 09 anos ela veio muito silenciosa, sem dores. Foi algo completamente tranquilo, que não me assustou.

Eu sentia vergonha e sinceramente? Não queria ter menstruado tão cedo. No meu íntimo, já que na minha família não havia tanta abertura para diálogo, não aceitava o fato de estar menstruada.

As amigas mais próximas nem sabiam o que era a menstruação. E em alguns momentos, eu me achava uma aberração, pois era mais alta, tinha mais curvas.

Uma notícia tão nova, que deveria ser um alerta, foi compartilhada com pessoas que não eram tão íntimas. Fazendo com que essa situação fosse constrangedora, e me fez ainda deixar de confiar em contar sobre transformações do meu corpo para as pessoas próximas.

Meu alívio em conversar veio em forma de uma das minhas melhores amigas, que também aos nove anos menstruou.

O tempo passou, e a cada menstruação as dores chegavam mais fortes. Dores nas pernas, na barriga, na cabeça. A TPM foi se tornando cada vez mais intensa. O fluxo também era horrendo: eu precisava usar dois absorventes para garantir que minhas roupas não se sujassem. E tem mais: não conseguia praticar esportes, correr era impossível... era como se algo dentro da minha barriga fosse estourar.

Minha menstruação durava nove dias. E somente aos 13 anos tenho lembrança de ir a um ginecologista, que disse que tudo isso era normal.

Aos 15 a menstruação simplesmente não veio mais. Fiquei muito feliz, excessivamente feliz! Afinal, não teria dores. Mais uma vez procuramos um médico, e como não existia sexo na minha realidade, a ausência da menstruação foi tida como "completamente normal".



E ela ficou ausente até os 18 anos. Voltou mais agressiva, com dores mais intensas que me faziam vomitar e rolar. Já estava cursando a faculdade, e eu mesma considerava que minhas dores poderiam ser... frescura da minha parte.

Comecei a trabalhar numa drogaria, e foi então que as dores começaram a me preocupar. Foi ai que vi algo anormal. E aquela mesma amiga que menstruou quase no mesmo período que eu, me alarmou pela primeira vez para a endometriose.



Dezembro de 2005. Planos um ano novo inesquecível, iríamos em um baile que reuniria toda a turma de amigos. O vestido branco estava separado. Mas provavelmente eu estaria menstruada, e a duração era de nove a dez dias, com fluxo intenso.

Peguei então uma cartela de anticoncepcional, daqueles mais baratinhos, e comecei a tomar. Uma semana depois, acordei com dores ainda mais intensas, e um sangramento horrível, em forma de jato.

Ao procurar o posto de saúde da minha cidade, com dor, vulnerável já que a roupa estava manchada; o boato que surgiu na pequena cidade onde moro era que estava grávida e havia abortado. Detalhe: eu era virgem nessa época.

Uma tia tomou a atitude de me levar a um ginecologista na cidade vizinha. Ele pediu exames, me passou um anticoncepcional, me orientou a perder logo a virgindade. No retorno, ele citou mais uma vez a palavra endometriose. Disse que essa doença era um inferno, que eu passaria maus bocados, engordaria, e no grau que ele havia verificado, não poderia ter filhos.

A recomendação era que fosse feita uma cirurgia para remoção dos ovários (que estavam aumentados) e do útero (que estava diminuído). Ele disse ainda que o meu caso era de uma doença agressiva, e que tudo na minha vida poderia ser horrível por conta dessa doença de nome tão estranho e que nunca ouvi falar em lugar nenhum.

Aliás, ninguém deu tanta importância a isso. Eu dizia que tinha endometriose e comentava das dores, e o que ouvia era "ah ela não tem nada".

E assim, sozinha, mas forte, decidi que não iria fazer uma cirurgia. Decidi passar pelas dores e rumar a outros tipos de tratamentos. Consegui monitorar quando as dores apareciam (sempre que eu relaxava, sempre ao dormir), e me entupia de analgésicos para não perder trabalho ou dia de aula.

Na bolsa, sempre pacotes de absorventes. Ao primeiro sinal de sangramento (ele nunca vinha sozinho, com o tempo você sabe bem qual a dor que indicará que a menstruação virá), absorvente noturno para segurar o fluxo por uma hora se tivesse sorte. Quando não dava pra trocar muito frequentemente, afinal os professores e o patrão não gostavam da ideia da pessoa ir ao banheiro de hora em hora, apelava para os absorventes pós cirúrgicos e descobri que, se usasse aquelas calças-cintas por cima da calcinha, ou as vezes um shortinho, estaria mais protegida de vazamentos. E a barriga mais apertada também era uma forma de amenizar a dor.

No posto de saúde, o receituário para as crises de cólicas já ficava pronto. Buscopam Composto intravenoso diluído em soro fisiológico. Se não passasse, corria na farmácia e tomava Profenid intramuscular. Se mesmo assim a dor estava intensa, a receita no posto de saúde de Tramadol e/ou Profenid intravenoso esperava por mim. Era comum. Era minha rotina mensal.



Eu aprendi a classificar o nível da dor. E descobri que nem todos os médicos sabiam diagnosticar a endometriose e tão pouco tratá-la.

O diagnóstico preciso foi tardio. Após ele, passei por vários médicos, inclusive especialistas, que me disseram que eu não tinha nada. Alguns me sugeriram procurar psicólogos. Outros a transar, pois meu caso era falta de sexo. Outros me disseram que eu tinha câncer no ovário. De um total de 14 médicos consultados ao longo do tempo (que eu me lembro), apenas 04 me acolheram com respeito. 03 deram a devida importância para a doença. E 02 aceitaram me tratar.



Você precisa saber que:
♥ O diagnóstico é realmente difícil, dependendo do tamanho do foco, é praticamente impossível constatá-lo em ultrassonografia. O mais indicado é a ressonância magnética pélvica.

♥Exames de sangue podem apontar a doença, principalmente os indicadores de doenças inflamatórias. Por isso, muitas vezes, somos diagnosticadas erroneamente com doenças reumáticas.

♥O CA-125, avaliado em exames sanguíneos, pode se elevar em casos de endometriose, principalmente nas profundas. Em resultados elevados, ele indica também câncer ovariano, por isso muitas vezes a mulher que possui endometriose sai do consultório desesperada, com um diagnóstico suspeito de câncer de ovário.

♥ A endometriose não se mantém apenas no útero, ovário e trompas. Ela pode migrar para outros órgãos, como intestino, bexiga, estômago e até mesmo para o pulmão. Por isso, quando é constatada a doença, os médicos podem solicitar outros tipos de exames para a detecção de mais focos, e até mesmo videolaparoscopia, apenas como fim de diagnóstico.

♥ É muito importante o diagnóstico precoce, e vale ressaltar que cada caso é um caso. Há mulheres que sentem dores intensas, que precisam até mesmo de internação no período menstrual. E outras não sentem absolutamente nada.

Saiba mais sobre a doença e sua manifestação:




O post já ficou longo, não entrei em detalhes da definição, por isso deixei links disponíveis para quem ainda não conhecia a doença.

Espero que tenham gostado, eu sempre achei muito difícil falar do assunto, me causava dor (e ainda dói em alguns momentos); mas em 2019, uma das minhas metas, é falar sobre a doença a fim de alertar e talvez ajudar outras pessoas que convivem com ela.


10 comentários:

  1. Oi Bianca, vou adorar te ver falar sobre esse assunto. Tb sou portadora de endometriose mas eu só acabei descobrindo porque ao tentar engravidar do segundo filho isso não acontecia. Tinha endometriose assintomática. Tb sofri deboche de um médico, ouvi q isso era coisa que eu tinha "enfiado na cabeça". Procurei outros médicos especialistas no assunto, fiz a cirurgia a 2 anos, engravidei logo em seguida mas perdi com 11 semanas. Tirei o ano de 2018 pra me recuperar física e psicologicamente do desgaste que essa doença causa. Ainda tento engravidar mas confesso que tem dias que não sei se isso irá acontecer. Hoje tenho até medo de ir ao médico e fazer exames, ver o quanto a doença pode ter progredindo (novamente).
    Bj, Vivi Peijel

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    1. Oi Viviane, tudo bem?
      Eu descobri recentemente sobre a assintomática, uma pessoa da minha cidade tem e foi super difícil o diagnóstico. Sinto muito por tudo que ouviu, é muito fácil alguém vir e apontar que é coisa da nossa cabeça.
      E sinto muitíssimo pela sua perda. Eu fiz a cirurgia em 2015, só poderia engravidar com a inseminação, mas é justamente o medo da perda que me impede de ir atrás desse sonho.
      Consigo entender o seu medo em ir ao médico. Também senti e sinto até hoje. É aquela coisa de quem procura acha. Mas não adie tanto. As vezes a descoberta imediata de um foco tornará sua qualidade de vida melhor, e a coragem em enfrentar a consulta é melhor que o medo de não saber o que está acontecendo ai dentro de você.
      Força!! Um 2019 cheio de felicidades pra você (estarei de dedos cruzados para que seus sonhos se tornem reais, vá a consulta!). Beijos

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  2. É por este e outros tantos motivos que adoro vir aqui no blog! Um assunto tão pouco comentado, ainda sim, por ser até tabu, mas na maioria das vezes, por não haver entendimento de quem tem esse "problema",mas também até nos tratamentos médicos!
    Se uma menstruação de 05 dias já é irritante e olha, a minha não é tão apavorante, fiquei aqui imaginando todo este sofrimento e ainda sendo tão jovem.
    Sei que a medicina avançou muito, mas há muito ainda o que fazer a respeito de tratamentos que aliviem ao menos a dor de tantas mulheres que passam por isso.
    Adorei e vou acompanhar todos os posts. Não tenho,mas vai que posso ajudar a quem tem né?
    Beijo

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    1. Oi amore mio! Como você está? Obrigada ♥ Fico feliz por ter uma mulher tão cheia de empatia aqui no blog. São de pessoas como você que o mundo precisa.
      Beijos

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  3. Nossa nao tinha ideia que essa doença fosse assim, só quem passa por isso para ver os transtornos causados. Desejo melhoras a você e a quem vive a mesma situação. Eu menstruei cedo também, mas graças a Deus meu fluxo foi normal!!

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  4. Oi Bia!!!

    Compartilho a vida contigo e infelizmente o diagnóstico dessa terrível doença. Espero que ao longo do tempo sua qualidade de vida melhore, e que atitudes mais drásticas não tenham que ser tomadas. Como sempre falamos: realmente só passando por essa doença pra saber o que sentir.
    A falta de empatia, de cuidado e de um olhar profundo dos médicos e de nossa sociedade, infelizmente ainda nos deixa à mercê da endometriose. Ainda bem que estamos caminhando para um atendimento mais humanizado... finalmente.
    Precisamos falar sobre o assunto e conscientizar as pessoas pra uma doença tão grave que afeta a mulher no seu estado biopiscossocial!!

    Estou contigo!!

    Beijos
    Naty!!!

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    1. Eu não quis citar nomes, mas você bem sabe que essa "amiga" do post trata-se da sua pessoa. Nem sei o que seria da minha sanidade mental se você não estivesse comigo.
      Amo muito ♥
      Beijos

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  5. Oie. Nossa estou super triste em saber que você passou por tudo isso sozinha, e pior, com os familiares mandando energias e palavras negativas para você. Mas ao mesmo tempo tenho orgulho do quanto você foi corajosa, e forte para lidar com isso. E terá de ser mais ainda para o resto da vida. Parabéns, você é uma guerreira.

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